Ariano morreu nesta quarta-feira, 23, às 17h15, aos 87 anos, de
parada cardíaca provocada pela hipertensão intracraniana, segundo
informou por meio de nota o Real Hospital Português do Recife, onde o
escritor estava internado desde segunda-feira, 21, após sofrer um AVC. O
velório público estava previsto para começar ontem a noite, a partir
das 23h no Palácio do Campo das Princesas, na área Central do Recife. Já
o enterro será no Cemitério Morado da Paz, às 16h, desta quinta-feira
(24).
Eleito para a ABL (Academia Brasileira de Letras) desde
1989, Suassuna escreveu mais de 15 peças teatrais e seis romances
ficcionais. Ele ficou conhecido nacionalmente por trabalhos como “O Auto
da Comparecida”, de 1955. A história-que virou minissérie da TV Globo
em 1999 e foi adaptada para o cinema em 2000— é uma comédia dramática na
qual dois pobres sertanejos nordestinos, um mentiroso e o outro
covarde, valem-se de pequenos golpes e biscates para conseguir tocar a
vida.
Obra nacional
Na verdade, Suassuna está
fundamentalmente enraizado na cultura brasileira, defendendo-a com
clamor, mas também com rigor, separando o joio do trigo. “Um país que
tem Os Sertões pode ser dominado politicamente, pode ser aviltado, mas
estará sempre a salvo”, disse, certa vez, reafirmando a defesa de uma
causa que lhe garantiu acusações de xenofobia, especialmente quando
investia contra o que considerava lixo cultural imposto por nações como
os EUA. Ele dava de ombros: “Sou velho, mas tenho muita energia. Quem
quiser duelar comigo, que venha preparado”.
Homem obstinado - não
media esforços para traduzir em palavras e imagens a grandeza de seu
universo tão particular, de onde saíram personagens e tramas fantásticas
- em todas as acepções da palavra. Na literatura, estreou em 1947, com
Uma Mulher Vestida de Sol, mas foi com Auto da Compadecida (1955) que se
tornou nacionalmente conhecido.
A peça nasceu da fusão de três
folhetos de cordel: O Enterro do Cachorro, O Cavalo Que Defecava
Dinheiro e O Castigo da Soberba. Conta com 16 personagens e exibe
conexões com o teatro medieval, especialmente com Calderón de La Barca.
Tal
mescla se tornou uma de suas principais características. A sátira
social marca O Casamento Suspeitoso, de 1957, a menos rural das peças de
Suassuna, não apenas pelo tema como pela estrutura. Com O Santo e a
Porca, também do mesmo ano, Suassuna criou personagens pertencentes às
famílias constituídas e a temática em ambas é centrada no interesse pelo
dinheiro associado ao matrimônio.
Os personagens de Ariano
retomam a tradição do teatro popular, “a dupla circense que o povo, com
seu instinto certeiro, batizou admiravelmente de o Palhaço e o Besta”,
como disse ele, certa vez. Outros elementos típicos da cultura
brasileira que ali aparecem são o bumba meu boi e a propaganda popular
nordestina. Suassuna ainda evocava os empregados espertos e
independentes de Molière e da Commedia dell’Arte.
Nenhum comentário
Postar um comentário