OM: Além das entrevistas com Valdetário Carneiro, que outra reportagem marcou sua vida profissional?
Otoniel Maia: Uma chacina que aconteceu em Areia Branca, em 2003. Na época, eu trabalhava na TV Ponta Negra. Em um sábado, em casa, recebi a ligação do dono da TV, Carlos Alberto, informando que haviam prendido uma pessoa em Areia Branca, porque ele tinha estuprado e matado uma menina. Quando cheguei lá estavam cinco mil pessoas jogando paralelepípedo na delegacia, atearam fogo em oito viaturas, cortaram telefone. Nesse dia a Globo estava fora do ar, e eu fui manchete nacional e em mais 11 países com essa matéria. Foram 29 minutos de exibição seguidos.
OM: Mossoró hoje vive um cenário onde a violência impera. São
mais de 150 assassinatos em quase nove meses. Com décadas de
experiência na cobertura policial, como o senhor avalia esse momento que
estamos vivendo?
Otoniel Maia: Eu nunca vi tanto empenho dos policiais para trabalhar como estou vendo agora, mas só que eles não possuem meios. Até o governo anterior, eram 20 viaturas circulando em Mossoró, hoje são 15 veículos, incluindo motos, carros. E não tem jeito, daqui pra frente é de pior a pior, ninguém espere melhora. O atual governo deveria ter convocado os 70 delegados aprovados no concurso, mas não chamou. Os policiais também não serão chamados.
OM: A educação dos jovens também é determinante para reverter esse quadro?
Otoniel Maia: Em primeiro lugar tem que está a família. Tenho oito filhos homens, e todos pedem minha benção e me chamam de senhor. Eles não fazem nada sem me consultar.
OM: Então quer dizer que o filho do senhor, Otoniel Maia
Júnior, advogado em Mossoró do traficante Fernandinho Beira Mar, pediu
sua autorização para defender Beira Mar?
Otoniel Maia: Sim, ele me consultou, e procurei ouvir a opinião de juízes a respeito desse assunto, e um chegou até a questionar meu filho, mas Otoniel Júnior explicou que não iria se envolver, iria fazer o trabalho dele. E hoje, o Fernandinho é apaixonado por ele. Além de Beira Mar, ele também tem cinco clientes envolvidos com o Primeiro Comando da Capital (PCC). E eu estou muito feliz.
OM: Em que momento o senhor decidiu ingressar na vida política? Como ocorreu essa transição da polícia para esse novo ramo?
Otoniel Maia: Eu fui candidato três vezes a vereador aqui em Mossoró, em 1972, 76, e 82. Eu sempre tive facilidade em fazer boas amizades, e fui candidato a pedido do deputado Vingt-Rosado, mas não me elegi, porque não tinha como. Eu era locutor, não tinha condições financeiras. Aí surgiu o convite para ser candidato em Felipe Guerra, me elegi em 1992, e de lá para cá não perdi mais nenhuma eleição.
OM: Otoniel, quais os problemas de saúde que o senhor já enfrentou e enfrenta atualmente?
Otoniel Maia: Eu só sou vivo hoje porque sou crente. Por conta da bebida eu contraí diabetes, uma hepatite C, que acabou provocando um câncer no fígado, sendo que um médico em São Paulo disse que eu não tinha nem três meses. Depois, saí daqui cego para Natal, fiz cinco cirurgias nos olhos, o médico afirmou que eu não iria mais enxergar. Ainda tive um infarto, fui à UTI, e agora perdi os rins, por isso faço hemodiálise.
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